domingo, 31 de maio de 2009

Citando # 199

Solidão não é falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo. Isso é carência.



Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar. Isso é saudade.



Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos. Isso é equilibrio.



Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsivamente para que revejamos a nossa vida... Isso é um pricípio da natureza.



Solidão não é o vazio da gente ao nosso lado. Isso é circuntância.



Solidão é muito mais que tudo isto. Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão a nossa alma.





Frase atribuída a Chico Buarque da Holanda e retirada daqui

sexta-feira, 29 de maio de 2009




não te direi dos verdes
escorrem das árvores
como as saudades
e o voo rasante da águia
por sobre o oceano

estados de ânsia
na vertigem dos assombros.


Berlim, 17 de maio de 2009



terça-feira, 26 de maio de 2009

Na torre do holocausto



só o som do vazio
estranha presença
vinda das entranhas

mão de ternura.



Berlim, 16 de maio de 2009

domingo, 24 de maio de 2009

Sem título

só um som
cortando o silêncio
a voz ausente


Berlim, 16 de Maio de 2009

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Sem título


Quando o silêncio não sorve a distância
e da noite nem as palavras
partiram
o medo cresce na manhã
por entre os ramos dos plátanos

angústias de um grito contido.

HFM - Berlim, 12 de Maio de 2009



quarta-feira, 20 de maio de 2009





Deixo, então, que a modorra me invada enquanto algures a vida se desenrola lá em baixo. Aproveito as memórias, as certezas e com elas construo, qual beduíno, a tenda que neste habitáculo habito, feita de colunas, de mar, de esperança e de um sentimento único e indestrutível.

Não ligo aos desvios. Aos hiatos. À superfície mantenho a linha que, comigo, também veio passear. Crio-lhe espaço na sensibilidade dos dedos e do olhar e projecto no infinito a imagem que me habita. Recordo traços e nos gestos recuperados desenho o sorriso. Sem sombras. Sem projecções. Apenas a essência do essencial. A marca presente dos dias seguros. A coluna que tudo sustenta até o galope dos cavalos. E o mar que, talvez, não ande longe, embora em sentido contrário.

Amarras consolidadas. Âncoras de que não preciso. Certezas a que me agarro. E quando a dúvida me assalta, sorrio - coisas do meu signo, digo-me, e deixo que escorram todas as certezas que trago comigo.

Voa coração, voa. Leva a imaginação e o que aperto na minha pele - entre mar e céu - a plenitude.

Algures nos céus, 10 de Maio de 2009



segunda-feira, 18 de maio de 2009


Quando na cidade o grito só tem uma direcção
é na Catedral da Memória
que assento o corpo cansado
e o imaginário voa
terra fora
para os infinitos de diálogo e mar
onde se secam as dúvidas
e se abrem os labirintos
suspensos de colunas
que bordejam a ternura

assim se desvendam as sinfonias.

Berlim, 14 de Maio de 2009



sábado, 9 de maio de 2009

Citando # 198



...chamamos-lhes alunos. Deveríamos antes chamar-lhes discípulos, se fossemos capazes de ser mestres...


António Quadros



Por uma semana estarei em Berlim.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Nos sarilhos do mar

à revelia da sombra
corria o sorriso
enigma de ternura na textura do mar


como um cello murmurava a onda.


HFM - Lisboa, 2 de Maio de 2009

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Quando o Sr. de la Palice passou por aqui

Quando do silêncio se escapam gritos a noite cerra-se na densidade das luzes. On/off. Como um comutador a que não saibamos transmitir energia.

Assim fenece o mal estar enquanto a noite derruba a insónia e os sentimentos. Passos cansados na areia das expectativas. Um volte face súbito e a razão predomina. Engole-se em seco. Respira-se fundo. E o silêncio torna a invadir os locais onde a memória se apaga por um consentimento assumido.

Estranhos laços. Fitas de veludo. Talvez um carroussel em contínuo movimento giratório. Ainda o grito da gaivota quando o mar a surpreende. Ou talvez, tão só, aquela certeza de que a solidão existe.

HFM - 5 de Maio de 2009

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Do diário de viagem


Silêncio. O verdadeiro. Quando de dentro percorre a envolvência. Melancólica nostalgia onde somos sem ser num alheamento estático e, contudo, tão profundo.


Ausência de estruturas mentais. Apenas as colunas protegendo um céu com nuvens. Apenas as pinturas cercando de cor o que em nós há de melhor. Apenas o querer ser. Ainda a desmesurada ausência tão presente. O despojamento mesmo quando a riqueza estético-pictórica é demasiado premente.


E o eco das palavras por silabar é ainda e tão só a ressonância do vazio. E os passos precedem retrocessos no tempo. E as memórias deixam de ser um casulo para, despidas de qualquer fantasia, serem apenas o espelho onde nos confrontamos. O espelho gasto, um pouco partido, esfumado onde a vida se ausenta e se mostra.


No labirinto das memórias as ideias e os pensamentos desciam à cripta despojada que a Igreja tentou arrebicar mas não conseguiu. Aí, onde o silêncio era presença, a agnóstica sentiu-se bem - silêncio de paz interior - silêncio onde nos encontramos - silêncio onde não há fugas - silêncio que corta amarras e preconceitos - silêncio de vida - silêncio de confrontos onde nos assumimos - silêncio onde adivinhamos os nossos mortos - silêncio onde nos completamos.


Um dia onde vi sem ver. Onde os olhos foram a interioridade que desfocaram Giotto e Cimabue e deles ressaltaram, em ecumenismo, a paz e a beleza estética do sublime.


E, num gesto maternal, entreguei ao silêncio a pureza do que me invade e transcende - o infindável sentimento do amor.


Nesta noite de insónia, nesta cidade, outra que não a minha, faltam-me as palavras, mas ressurge, tudo dominando, a força dum silêncio que descobri.




Roma, 25 de Fevereiro de 2009 - depois de um dia descobrindo Assis