segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Soletrando-me



Não te digo porque já não penso
vivo como se me apresenta a vida.
Aceito-a? Não, mas vivo
porque há sol, mar, vento, palavras, música
porque dos estranhos faço amigos
e quando os amigos me estranham, afasto-me
a vida é curta, Almada sabia-o,
e de que serve viver o que não tem sentido?
Já me roí de pensar
agora como que desleixo essa agonia
solto as amarras, liberto a pele
e há tanto mar...
e a lenda fala-me de outras terras
de caminhos sinuosos onde se respira.

Encho o peito de ar
e passo a passo
comigo viajo de braço dado ao futuro
na lâmina dos meus objectivos.

HFM - Lisboa, 25 de Fevº de 2012


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Diurnos


HFM


Com a água rego as tréguas na calma doçura de um fim de tarde. Com a clareza da ternura faço um voto. Secreto. Inatingível. Como memória feita renda por onde se escapam vivências. Nos cheiros que o passado aporta reconheço o mar, a casa e a criança por devir. Não quero votos. Na dança do absurdo corrijo os fios em que me enredo. Abro a janela. No infinito reconheço o ponto de fuga. Como um post scriptum.

HFM - Lisboa, 18 de Fevereiro de 2012

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Citando

En Egipto se llamaban las bibliotecas el tesoro de los remedios del alma. En efecto, curábase en ellas de la ignorancia, la más peligrosa de las enfermedades y el origen de todas las demás.

Jacques Benigne Bossuet

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012



Agora és memória
na força do labirinto
retalho ou afluente
impossível de luz
no enigma sem esfinge
revolta na pele que se desfaz

assim transitam os dias.

HFM - Fevº 2012

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Diurnos

Os rios sem afluentes navegam sozinhos na eternidade. Sou rio. Sem água. Hiato perdendo-se nos arrozais.

HFM - Fevº 2012

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Dos dias


do blogue Chromaesthesia

são farrapos de linho
na leveza da manhã
que o frio cose
e a ternura dedilha

verbos intransitáveis
que o tempo conjuga.

HFM - 13 de Fevº de 2012

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Antoni Tapiès - 1923/2012




Um pintor de que gosto muito e um grande pensador.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Dissonante

Um traço e o palhaço dança
Um traço e a criança desenha o mundo
Um traço e a imaginação solta-se
Um traço intermitente...

Acabou a tinta.

HFM

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Cave of Forgotten Dreams




Uma sugestão dada por quem, não tendo o mínimo espírito de toupeira, tenta sempre entrar nas várias grutas. Felizmente ainda consegui ver algumas in locco, sobretudo no centro de França, sem ser em "fotocópia" como chamei à gruta de Lascaux que foi reproduzida ao lado da verdadeira e que também vi. Eu percebo a razão destas limitações, mas ver um Cézanne num museu (nas paredes da minha casa, não, apenas porque são muito pequenas ;)) não é o mesmo que o ver num livro ou em cópias.

Por isso gostei de ver estes escassos raros minutos!