segunda-feira, 10 de agosto de 2009





Quando o verde se atreve em perspectiva linear central e a sua frescura apascenta o meu corpo, distendo-me. E faço-o de tal maneira que a recordação liberta em mim, como num leque, os close-ups de uma tarde quente. Outra.

Era o mesmo jardim. Mais calor. Revi os bancos que se encostavam em ângulo recto e as tuas mãos salientando-se por sobre as calças. Hoje havia silêncio, não o ensaio que me ensurdecia. Bailavam os panos e a sua frescura. O CAM, à direita, era um convite tal a frescura do bambu. Sem ser em jeito de romaria também passei pela rua do restaurante barulhentamente ensurdecedor mas que os teus olhos apaziguavam.

Olhei a minhas mãos. Senti-as vazias e, então, voluntariamente deixei que tudo se esfumasse como o lado de sombra dos rostos nos retratos de Fantin Latour que acabara de visitar.

Lisboa, Gulbenkian, 9 de Agosto de 2009



6 comentários:

Ad astra disse...

quando o verde se atreve...

o verde, sempre ele



(magnifico)

mariab disse...

quando as lembranças se insinuam na dolência de uma tarde de Verão.
belo. beijos

J.T.Parreira disse...

Venho aqui, Helena, para falar de outra coisa, do poemas: «Quando te ergueres do nada».
Muito bom!
Abç
J.

Ilidio Soares disse...

Impressionante...eu não li, eu vi tudo. Já lhe disse uma vez, e volto a repetir: quando você proseia é quando você fica mais poética...abçs

jrd disse...

Um verde -mágico- que se quer verde.
Abraço nórdico

Manuel Veiga disse...

verde como o esvoaçar dos melros. na memória...

belíssimo.

beijo