Um soluço e uma pena habitam a memória neste dia de sol que invade a cidade. Parece que a nostalgia veio para ficar. Como um pregão. Ou uma fuga. Nesse soluço que mais parece uma falha de respiração. A luz está agreste e talvez ela o tenha construído como uma muralha. Abstracta. Mas é lúcida a nostalgia. Em diálogo comigo onde estou longe de estar k.o. Vou-lhe dando pasto. Vou-lhe avivando a memória. Contudo, recolho em mim, as imagens onde não quero navegar. “Navegar é preciso”!; é sim, meu amigo, mas há momentos em que a inacção se deve sobrepor, de preferência uma inacção tipicamente britânica – uma perfeita idleness.
Fica, então, essa pena embrulhada no soluço e a respiração do náufrago que parou de navegar.
“Tanto mar”!. A ele voltarei quando, encrespada a costa, os seus verdes se reflectirem no azul e pacificarem o soluço; então, permitirei que o veleiro se faça ao mar numa arriscada manobra torneando o cabo de todos os murmúrios.
HFM - Lisboa, 25 de Agosto de 2010
9 comentários:
Consegues superar-te quando falas do mar.
Que magnífico texto. Como uma lâmina cortando as águas.
Um beijo.
Restless
como mares e mares
tantas vezes por dentro o somos
(tens, além das palavras e das imagens, "os traços" da tua respiração)
(eu gosto, insisto em manter laços com a beleza; sítios de paisagem - há que tempos? há que cruzamentos?)
Bjs da bettips
De preferência
desgrenhado
para os azuis serem perfeitos
Desfralde as velas... e olhe o horizonte.
ancorado veleiro, aguardando maré de feição
...
Belíssimo! 'A bolina' se escreve o mar.
Abraço
belíssimo.
tecendo ondas de silêncio. como quem cultiva mares nunca navegados!
beijos
Nostalgia necessária para o recolher de novos murmúrios.
Belíssimo, Helena !
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