Quando o sol é pedrada num charco sem luz, o outono clareia mais cedo e as nuvens entontecem, na marina, os veleiros. Os verdes, quase castanhos, contemplam à sua volta, no espelho de água, a cor esmaecida onde se reflectem. Só o mar teima em guardar o azul ultramarino - mais cerrado, é certo - mas sempre impondo-se e afastando qualquer toque de cinzento. Ali reina ele. Pode adaptar-se, vestir-se de alguas roupagens novas, oferecer uma sensação de calmaria mas, sempre, inabalavelmente, é ele que dita as suas leis. De calmo e turquesa, rápido se torna indigo e as ondas avançam para lá das rochas na direcção do aparente sossego em que as gentes habitam. Então, estonteadas, as gentes apercebem-se da sua vontade, de que a sua lei é a mais forte e avassaladora. Que a grandeza não se esgota no dia-a-dia - é eterna.
Com o mar me quero, nele me cumpro, com ele aprendo. Encosto a mim as suas forças e prometo-me que não adiarei mais aquilo que sou e me quero.
Nesta ilha de lava, de mar, de vento e de uma força renovada que, há bem poucos anos, em termos de natureza, a alargou, eu encontro a força e a determinação inabalável de me cumprir com as minhas leis, a minha educação e a razoabilidade inteligente de saber que a minha liberdade termina onde começa a dos outros. O contrário também.
HFM - texto e aguarela, Setembro de 2012
5 comentários:
as saudades que tenho da tua ilha.
foi o lugar que encontrei mais perto do que chamo paraíso, Helena.
A Senhora, a ilha e o mar.
Um texto belíssimo.
Abraco
"Só o mar teima em guardar o azul ultramarino"
uma beleza este post, onde já se sente toques de ilhéu
uma ilha dentro da ilha - e o mar como janela...
belissimo.
Rodeados de sonhos
por todos os lados
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