Às vezes gosto de recriar cenários vivos – sento-me, por exemplo, num café e enceno um outro personagem que analisa as pessoas e os espaços de fora de mim e com uma argúcia que nada tem a ver comigo, ora com um estranho humor, ora numa rezingona sonolência. Outras vezes persigo uma pessoa, numa daquelas poucas ruas que teima em desacelerar a normal sucessão dos passos e tento imitá-la ora nos trejeitos ora no enredo de vida que lhe crio. Mas é o Metro que me fornece os meus melhores cenários – pessoas dormindo, pessoas comendo, pessoas falando sozinhas, pessoas interminavelmente ávidas dos seus telemóveis em frenéticas ligações mas, acima de tudo, as pessoas que fazem das carruagens do Metro a sua sala de estar privativa; nestes casos a imaginação pode ir dormir – o diálogo é contínuo, as deixas e os gestos que o adornam são de actores profissionais e o cenário é vivo e não precisa de qualquer retoque!
Por favor, podem levantar a cortina já se ouviram as pancadinhas de Molière!
HFM – Lisboa, 18 de Fevereiro de 2010
7 comentários:
Também, com certa frequência, me deixo entregar a esse jogo. :)
é a imaginação a ser fertilizada;)
e a partir de hoje vou olhar sempre por cima do ombro a ver se me persegues
Li em silêncio
Voltei a ler com Diana Krall
Gostei nas duas versões
Bjs
Mas que belo relato do quotidiano!
gostei de te ler, Helena.
nunca "imito", mas tento não perder pitada...
como bem compreendo as tuas "encenações"!...
....que tão bem mostras com admirável mestria!
a vida que se desenrola em redor de nós (e a célebre citação de Shakespeare - a vida é um palco e nós somos todos actores).
beijo, helena.
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