sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011



Na mão da criança a letra emperrou. Com afinco continuou. Língua de fora - parecia-lhe ajudar ao desenho da letra. O p talvez não estivesse perfeito mas ela sabia que era com aquela letra que se escrevia PALAVRA e a professora dissera-lhe que, com palavras, ela poderia fixar, no papel, os sonhos.

Durante uma parte da tarde a criança desenhou as restantes letras da palavra. Só ela as compreendia. Conseguia, contudo, concretizar o seu sonho. Agora o mundo era seu e poderia contar os sonhos e poderia fixar no papel as letras com que ele se escreve.

Sorriu. Pousou o lápis. E ficou a contemplar a imensidão que se abria naquela folha de papel que tirara da impressora do pai.

Havia a letra. Havia o sonho. Havia o bailado dos dois girando em sinfonia.

Talvez fosse o barulho do avião ou da nave espacial dos sonhos.

E uma gargalhada estridente soltou-se da criança.



HFM - 18 de Janeiro de 2011

5 comentários:

Mel de Carvalho disse...

Havia a letra e a descoberta. Havia a flor, sorrindo, sonho,
e o P, de promessa de um continuar. Em cada criança.

Gratidão sempre pela leitura aqui.
Mel

Mar Arável disse...

Um dia seremos crianças

Ad astra disse...

uma sinfonia de sonho


sorrindo

Licínia Quitério disse...

A palavra com que se abre um caminho, uma vida. Muito belo texto. Obrigada.

jrd disse...

Pois é Helena: "p" de palavra, "p" de poste perfeito, que não cai.
Parabens!
Abraço