Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Eu ainda não fiz
viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens! Eu vou viajar. Tenho
sede! Eu prometo saber viajar!
Quando voltar, é para
subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da
nossa casa. Depois venho sentar-me a teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as
minhas viagens, aquelas que eu viajei tão parecidas com as que não viajei,
escritas ambas com as mesmas palavras. Mãe! Ata as tuas mãos
às minhas e dá um nó cego muito apertado! Eu quero ser qualquer coisa da nossa
casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio que sirva exactamente para a
nossa casa, como a mesa.
Mãe! Passa a tua mão
pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça, é tudo tão verdade!
Quando passas a tua mão na minha cabeça, é tudo tão verdade!
(A Invenção do Dia Claro, de Almada Negreiros, INCM)
4 comentários:
(...)Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim (...)
Eugénio de Andrade
...e a saudade feita de esperança em dias melhores.
Abraço
Palavras para quê
Do ventre
até à foz
dói. de tão belo e suave...
ainda hoje sinto os dedos acariciando a cabeça.
beijo
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