Como num filme de Antonioni ela mantinha os olhos fixos, inexpressivos para lá da janela da carruagem. Mudavam as paisagens, passavam as gares, entravam pessoas. Nada lhe desviava o olhar como se o tempo estivesse suspenso e a realidade não existisse. Também ela, ali, não existia. Apenas o comboio servia o tempo. Ela não estava ali. Nenhures era o seu lugar; ausência o seu paradigma. A vida corria noutra galáxia onde o tempo se pautava pela inutilidade de certas horas, pelo cansaço da rotina, pela ausência do espanto. O espanto. Fugira-lhe na mutação das promessas.
Desviou os olhos. Recostou a cabeça no espaldar do assento. Adormeceu.
Reiniciou-se o ciclo das ausências.
Desviou os olhos. Recostou a cabeça no espaldar do assento. Adormeceu.
Reiniciou-se o ciclo das ausências.
HFM - 13 de Abril de 2010
6 comentários:
como num filme
a preto e branco...
belo texto.bela fotografia
Belíssima descrição do Eu em retracção.
Um beijo
Um texto notável. Uma viagem -também- por dentro.
(Iniciou-se o ciclo das vitórias :))
Parar
para ver
como se anda
Belo com um beijo presente
...e cheguei ao Antonioni, sim, o das paisagens perdidas - da confusão das mulheres e da fixidez das tristezas interiores, tão nossas.
Bj
não estar em lugar nenhum para experimentar a ausência do espanto... Mais um belo texto.
Um beijo Helena.
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