Percorro, no nevoeiro áspero da negação, a estrada interior onde se situam as utopias. As minhas, as de Piranesi e as de tantos outros cuja sede nunca se sacia. Conjuro todas as forças, os silêncios, as memórias e, passo a passo, interrogo-me, procuro, fendo, prossigo numa desesperada viagem sem caminho e de retorno inviável. A partida e a chegada confundem-se com o percurso. Não há alimento que sacie o grito ou a revolta. Em mim a música não é heróica e a melodia está suspensa na clave inexistente, melhor, na clave destruída onde apagaram todos os símbolos. A chave que faria daquele caos música perdeu-se no deserto onde a areia é movediça e as pedras calhaus onde os pés rasgam o sangue do mar vermelho de todos os sentires. A distância é ainda a miragem da cisterna só que da água não existe memória. Só sede. Os códigos ancestrais foram eliminados e temo que só os mortos ainda os decifrem.
Da corda resta o fio que nenhuma Ariadne segura. Também Teseu se acomodou e do Minotauro só as efabulações lhe dão sentido.
Resta o traço que, sendo linha, ainda sustém o precicpício.
Da corda resta o fio que nenhuma Ariadne segura. Também Teseu se acomodou e do Minotauro só as efabulações lhe dão sentido.
Resta o traço que, sendo linha, ainda sustém o precicpício.
HFM - Lisboa, 18 de Abril de 2010
7 comentários:
o traço, que sendo linha
prende e amarra
puxa e segura
mesmo no balanço dos ventos contrários
Ainda resta a memória da água
por um fio
que se movimenta
para o mar
Belo texto
Belo Texto!
A vigília das palavras e dos símbolos.
Um traço elementar e essencial!
Escrita perfeita capaz de dizer os sinuosos caminhos da dor.
Um abraço, amiga.
Eternamente buscando
e conseguindo
a perfeição das cousas...
há caminhos interiores em busca de uma sede íntima, que nos são difíceis e nos fazem olhar precipícios. a helena poetizou-os muito bem.
beijo!
é a linha da vida...
abraço Helena
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