terça-feira, 20 de agosto de 2013

 
 



Só a leveza da madrugada
reflecte no olhar o sorriso

no horizonte espreitam os trilhos

HFM - Lisboa, 20 de Agosto de 2013

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Do diário


 
Não te conto a história. Seria ridículo no calor dos dias. Seriam soturnas as horas que levasses a reflectir nela. Só te agradariam se passasses para o outro lado do espelho e te questionasses. Fora disso, na servidão dos dias, todas as explicações seriam terríveis e devastadoras. Repara que falei de explicações, não de justificações. Um abismo entre estas duas palavras. Como os grandes espaços a pique no Grand Canyon americano. Como as pontes romanas em ruínas por incúria ou por falta de cultura. E isso importa? Não. Este é o país. Estas as suas gentes.

Olha, reparei agora; do outro lado do espelho há uma outra que ri. Ri mesmo. Não, não é um sorriso. É pior do que isso, o hiato entre o sorriso e a gargalhada. Devastador. Mas esta posso eu fintar. Basta-me virar-lhe as costas. É apenas a minha imagem reflectida no espelho. O alter-ego de quem posso desdenhar e de quem me posso esconder. Que posso matar, basta apenas não olhar para lá. Tão simples! E, contudo, tão infantil! Não sei porquê pensei no teorema de Pitágoras. E logo eu!...

Não te conto a história. Isso é definitivo. Falo-te do tempo. Do calor. Das penumbras. Das dunas. E, se estiveres em dia sim, ultimamente tão raros, talvez também te fale de Florença. Ou de outra galáxia que criarei, onde todos os possíveis são cenários prováveis que povoarei de pessoas também elas imaginadas. Giro. Daria um bom romance se eu fosse escritora. Assim, com a verve em dia de grande acção, continuarei apenas a debitar uma torrente de palavras mais ou menos com sentido. Apenas para calar o silêncio. Ou serão os silêncios? É parva esta língua onde apenas uma letra faz toda a diferença. Isto não é próprio da “silly season”, faria mais sentido num salão literário do século XIX.

Ainda aí estás? Sim, já percebi, estás-me a ouvir. Pensando noutra coisa, seguramente. Por isso esqueces quase tudo. Paciência. Nada a fazer. Apenas afastar-me do espelho e apagar os silêncios.

Boa tarde.

 

HFM - Lisboa, 2 de Agosto de 2013