quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Ano Novo




BOM ANO PARA TODOS!


segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Fortaleza de Cascais - HFM



A norte no norte no farol mais distante encontrei o porto. Sem abrigo. Desprotegido. Onde as ondas cavam na rocha a beleza. Onde os pássaros se acoitam sem ninho. Onde a secura férrea da terra se molda à humidade. Aí, na envolvência agreste de todas as interrogações, o silêncio canta, ao som do cello, todas as gratidões do universo.

sábado, 26 de dezembro de 2009


HFM


O lugar periférico onde te encontrei
guarda o silêncio e o marulhar das ondas



ritmos de eternidade.



HFM - Lisboa, 26 de Dezembro de 2009

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Natal 2009




penso em caracóis loiros. nas mãos papudas duma criança. no pião colorido rodopiando no sol avermelhado do fim da tarde. penso nos braços que se apertam em fraternidade. penso no mundo liberto para todos. penso nas múltiplas cores com que quero pintar o Natal de todos nós. são estas as imagens com que traço a Amizade.


Um Natal com fermento* para todos os amigos e visitantes deste blogue.

*palavra retirada dum poema de José Tolentino Mendonça

domingo, 20 de dezembro de 2009


Entristeciam na tarde os olhos
como o rio que apenas se sabia
nem as luzes enfeitavam a cidade
nem a noite se prometia

apenas a saudade cavava em nós uma fina, fina ironia.



HFM - Lisboa, 10 de Dezembro de 2009

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Diurnos



HFM


Na planura da estrada encontro o destino da viagem. Mais além surge a montanha e tudo faz ainda sentido. Alcançado o oceano há uma lacuna de sombras onde ensalivo o veleiro de todas as partidas.

Espelho de excessos e silêncios.

Cicatriz onde as penumbras se adensam e onde o fascínio renasce em cada madrugada.

Onda errante onde mergulho em catarse.


HFM - 26 de Novº 2009


quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Esboço

no movimento do traço
carrego a espuma e o tempo

encruzilhadas do teu olhar.


HFM - Ericeira, 11 de Dezembro de 2009

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009



Perguntaste-me pelas feridas, respondi-te, sem respirar, que o seu horizonte estava abaixo da linha de água.

Sorriste. Julguei que não tinhas percebido mas os teus olhos responderam-me - estou apenas virando-me do avesso.

Recoloquei o sorriso e senti-me bem no imenso tempo da solidão do mar.


HFM

sábado, 12 de dezembro de 2009

Desassossegada


Hoje estou sem estar
uma ponte entre ser e viver
um vazio que não preencho
a secura indiferente que os olhos
cavam no dia. E as cores
escorrendo, cá dentro, como
uma aguarela sem tintas
só a transparência das horas
e os passos por percorrer.

Melodias sem clave nem instrumentos!



HFM - Lisboa, 12 de Dezembro de 2009

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009





Quando te perguntei das horas não era do tempo que falava. Tão só do tempo inscrito no relógio.

O outro tempo? Chegar-nos-iam as horas?


HFM

sábado, 5 de dezembro de 2009

Sem título


uma réstia de sol na manhã fria
abrindo nesta relva a cor

do mistério dos dias úteis.


HFM

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Citando # 202

A infância é aí, onde partes, não onde chegas.


Manuel António Pina

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Anoitecidos


Enigmátias eram as escolhas e os lugares, ainda as ausências. Mas as mãos purificavam o silêncio e eu sabia que, na sua textura única, elas afagariam o vento, o mar, o mistério e o meu rosto no eterno poema do tempo.

HFM - 29 de Novembro de 2009

sábado, 28 de novembro de 2009

Citando # 201


Escreve as tuas mágoas no pó, e as tuas conquistas no mármore.


Benjamin Franklin

quinta-feira, 26 de novembro de 2009


HFM



Ouvi-te murmurar em confidência: há linhas que não atravessam os meridianos.

Sorri. Mal eu sabia da tua sabedoria. Num delírio mutante arrasto em mim essa certeza. Um desfoque não linear que aperto nos sonhos. Um enlace de silêncio. O simbolismo de todos os ritos. A cadência certa dos rasgões.

Como uma algema sinto-me agarrada por essas linhas onde as lâminas são frias e cortantes.



HFM - 25 de Novembro de 2009



terça-feira, 24 de novembro de 2009





Esfriam-se nas mãos as texturas. São farrapos acrescentados. Cadências que a cor multiplica e o olho desconstrói. Cimento que a vida agarra em cada pele como marca indelével de um sentir.

Encosto o olhar à textura. Com um dedo acaricio-a. Depois, levemente, sorrio. Em breve outra textura se sobreporá. Palimpsesto dos dias que assentam o enredado da vida. A voz que nenhum silêncio apaga.

HFM - Lisboa, 23 de Novembro de 2009

domingo, 22 de novembro de 2009

Sem título

não sei da vida mais do que o nada
o anverso
e a incógnita do haver.


HFM - Lisboa, 19 de Novembro de 2009

quinta-feira, 19 de novembro de 2009



Na correria soltam-se as velas do tempo sem amarras. Nem rio, nem ribeiro - mar. Mar e tempo ao despique numa trovoada de referências - as memórias que o tempo solta em nós e que o mar salga de espuma - e, no profundo fundo onde se acoitam os medos apercebemo-nos, então, que nada é mais importante do que o tempo.


HFM

terça-feira, 17 de novembro de 2009




Na manhã de chuva selam-se as entradas e lá dentro é mais sonora a cadência da vida e dos medos. Uma sonoridade onde se armazenam as águas e os pensamentos. Segue a linha da vida como um pequeno arroio aumentando o Tejo.

domingo, 15 de novembro de 2009

Lisboa - claustros da Sé





Continuando a palmilhar a insondável beleza que Lisboa, apesar de tudo, ainda guarda. Esta é, realmente, a Lisboa que eu amo.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Refúgio na cidade - Quinta das Conchas











HFM - fotos tiradas com telemóvel



Um oásis na cidade, um local priveligiado onde me distendo e pacifico e onde o outono se dignifica.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Sem título




assim os conseguisse enxotar
e seria infinito

começava assim a minha sms
e assim ficou
enxuta aberta
numa depuração de palavras
rente à imaginação
solitária
abrindo caminhos

terás percebido?
mastigo a inquietação e a
melancolia

e, contudo,
sei
que houve um momento
breve
em que fui infinito.

HFM

segunda-feira, 9 de novembro de 2009



no desvão da escada destaca-se a luz avermelhada do sol - um tom na cidade outonal que nada pressagiaria. o tom desfocado do calor adormecido quando a hora se modifica. sobre a cor falaríamos se ela não fosse decomposta em tantas outras quanto a imaginação do artista. deixo a mão poisar no vermelho que quero vermelho. vemelho rubro. vermelho sangue. vermelho
com que se cobriam as janelas quando alguém tinha sarampo.

depois, deixo os dedos tocar no imaginário e com ele percorro o caminho para lá da luz, para lá do sol, para bem longe daqui, numa outra galáxia de infinitos.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Aguarelando


o verde da mancha tapando insónias
e a sua transparência liquefazendo
a ternura acumulada
revoltada

expressionismo de sentimentos.

HFM - 5 de Novº de 2009


quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Sem título


encerradas nos poemas - as palavras
cellos e violinos abrindo cantatas.


HFM - 27 de Outº de 2009



segunda-feira, 2 de novembro de 2009



sofro-te, como sofro os golfinhos que, perseguindo-me, me abandonaram na transparência azul dum sol que reflectia o mar.


sábado, 31 de outubro de 2009




Ouvi-te murmurar uma canção
quase um arrepio
como o vento no labirinto
silente
quase o ondular do cisne.

Cantata de demência.





HFM - Lisboa, 26 de Outubro de 2009

quinta-feira, 29 de outubro de 2009



da nossa mansarda
por entre os vidros
coloria-se a cidade e a vida.

HFM - Lisboa,26 de Outubro de 2009

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Anoitecidos




Correm sempre ao contrário da trama os regatos desperdiçados. Clandestinos assumidos percorrem os regos na certeza de que, um dia, hão-de chegar ao mar. Têm dias. Aqueles em que o vento os empurra em sentido contrário. Aí acoitam-se na estação sem chuvas, ao abrigo das pedras e dos gatos. Numas férias onde, contra as pedras, se ferem, dilaceram e perturbam. Um dia ressuscitam. E calhau e pedras abaixo perdem-se em direcção ao mar.


HFM - 24 de Outubro de 2009

domingo, 25 de outubro de 2009

A chegada

O computador tinha-a avisado de que o jacto chegaria dentro de três horas. Olhava fixamente o monitor com aquele olhar que mais parecia o da impaciência das crianças. De repente viu no ar a sombra do jacto que tão bem conhecia. Um arrepio percorreu-a. Com uma pressa quase doentia vestiu o fato espacial. Desligou o computador. Fechou a porta e dirigiu-se ao terraço que ficava no alto de sua casa. Carregou, então, no botão que ficava junto ao seu coração e num impulso vigorosamente suave foi ejectada espaço fora. Há muito que tinha traçado a rota. Direcção – jacto 4097KB. Em breves segundos sentiu que uma força estranha a fazia descer suavemente sobre um relvado. O seu olhar seguro e certeiro num ápice encontrou o jacto e confiantemente dirigiu-se na sua direcção esperando que a porta se abrisse e dela...

- Ó mãe, podes passar-me a minha consola? vais ficar toda a tarde a jogar os meus jogos?


HFM - Lisboa, 19 de Outubro de 2009

sexta-feira, 23 de outubro de 2009


HFM


Intemporais são as brumas carregando o olhar e os gestos que afagam a revolta. Na margem dos contrastes afogo toda a insolvência num acrobático esgar de ternura.



HFM - Lisboa, Outubro 2009

quarta-feira, 21 de outubro de 2009


HFM


Dizer-te da linha ocre de terra
bordejando lagoa e olhos
seria apontar uma vírgula no céu
que um fugídio avião deixara
escorrendo branco no cerúleo da imensidão.

Silêncios ampliando das cores o coro e todos os sentimentos.





HFM - Lago Azul, Ferreira do Zêzere, 18 de Outubro de 2009


segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Anoitecidos




O sopro no arrepio do vento que secou a vela. A brisa que tudo leva quando se distende num vento surripiador. A secura na boca que nenhuma água dessedenta. Os travões correndo fortes evitando o acidente. O som sibilino do silêncio. A frescura e o sorriso que nenhuma situação mata.

Assim são feitas as madrugadas da esperança.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

For ever




quarta-feira, 14 de outubro de 2009






Quando o imprevisto cede lugar à certeza há espanto e medo. E um fiozinho de nervoso percorrendo a espinha. Convoco todas as memórias - as verdadeiras, as correctas, as esfumadas e aquelas que sou capaz de romancear. Depois passeio-as. Ad eternum. Como um rumor, um eco, ou tão só o sibilino rasto do vento. Assim me quero. Assim me sei. Assim me distendo. Na eterna procura da sabedoria contida nesse provérbio chinês:


Mesmo que tenha mil léguas toda a estrada começa por um passo.




segunda-feira, 12 de outubro de 2009



O labirinto desaguava na cisterna onde se bifurcavam as águas. Outra decisão se impunha. Qual dos caminhos? Como a vida, ou será o contrário? Assim me perco na pedra das antigas mansões onde maçons construiram o losango do chão sob o olho e na certa amplitude do compasso. Senti que alguém media a pegada que imprimia na lama e que qualquer chuva miudinha apagaria. Apenas uma mancha na sabedoria ancestral.

Pedra sobre pedra onde residem as migalhas do tempo.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Sem título





Entre gaivota e garajau
ausência de certezas.

HFM - Porto Pim Setº 2009



quarta-feira, 7 de outubro de 2009






Eu não te disse que te contaria das horas o eco e todo o silêncio da distância? O búzio que te oferecerei levar-te-á da ternura a difusa cadência de todos os sentires.





HFM - 6 de Outubro de 2009




segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Sem título



HFM


Quando da chuva só restam os pingos
ouve-se ao longe o eco

transumâncias.


HFM - 5 de Outubro de 2009



sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Hiatos




Quando os hiatos só contribuem para a não monotonia
tudo fica cinzento e as bifurcações não têm saída.

Alguém me disse que o sol volta sempre.

HFM - Lisboa, 1 de outubro de 2009



quarta-feira, 30 de setembro de 2009



HFM



Quando nas palavras se ouve o eco do mar sabemos que passaremos todos os equinócios. Até o Bojador se torna tranquilo. Na boca apenas os resquícios de sal que vamos acumulando. No Inverno, quando a saudade apertar, ruminamos esses resquícios na imensa ternura com que nos aconchegamos nas palavras. Nas correctas. Nas insubmissas. Nas que teremos de inventar. E ainda naquelas que aceitamos nunca descobrir. Assim nos preparamos, entre equinócios e solstícios, para a longa inevitabilidade dos hiatos.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Ternura


o teu olhar translúcido
evade-se na imensidão
salpicando equinócios.

HFM - Ericeira, 23 de Setº 2009



sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Diurnos





Ouvi um sussurro. Seria o vento? Um coelho saindo da sua loura? O canavial bailando? Uma onda partindo-se contra a rocha? Crianças brincando ao fundo? Um gato fugidio brincando? Como num filme de suspense tudo procurei. Em vão.

Sorri. Era tão só a tua voz dentro de mim.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Diurnos






Pergunta-me o Cabo que vislumbro da janela sobre a serra e o mar de que cor se fazem os dias da bruma. Penso na paleta. Nas suas misturas. Na teoria das cores. No olhar. E de supetão respondo-lhe:

- Fazem-se da saudade, da urgência, das falésias a pique e dos cabos, das presenças, das sintonias que só o mar amplia e do feitiço que todas as brumas carregam. Se quiseres, Cabo, podes juntar-lhe azul, um pouco de magenta e qualquer outro tom que o olhar encontre no fundo de outro olhar onde se adoçam certezas.


Ericeira, 20 de Setembro de 2009

segunda-feira, 21 de setembro de 2009


HFM


quando do infinito se evade uma gaivota
grita na terra a imensidão do mar

ziguezagues de ausências.

Ericeira, 20 de Setembro de 2009

sábado, 19 de setembro de 2009



HFM


Rente, rente à portada de vidro corria o pequeno terraço. As estrelas ecoavam no silêncio da intensidade do seu brilhar. E os olhos percorriam-nas imitando as crianças na descoberta de novas fantasias. O mar espelhava-se, ao lado, no silêncio do seu respirar que a lua orquestrava. Havia ainda as mãos bailando sinfonias. Clarificava-se na noite o dia. E os olhos eram frestas por onde se soltavam melodias.

Da simplicidade se fazem os dias de bruma e de luar. De certezas o mar se afirma.

Ericeira, 18 de Setembro de 2009

quinta-feira, 17 de setembro de 2009




foto de hfm - Londres - Regent's Canal


sei de ti quando te respiro
como a manhã sabe da lua.

terça-feira, 15 de setembro de 2009




na vertigem do silêncio, por onde os gatos desarrolham a liberdade, há um fluxo de matéria onde se gasta o tempo. imaterial. simbólico. líquido. dominador. um segredo ardendo nas horas. e a frugalidade da escolha.

sempre presente - o diálogo do teu olhar em mim. uma metáfora do divino.

domingo, 13 de setembro de 2009

Na bruma de Setembro




Não há termos. Certezas tão pouco. Linhas bem definidas que esfumo interiormente. Prefiro as minhas. Inventadas ao sabor do tempo. Fora das possibilidades e de todas as probabilidades. Incongruentes. Mas com o sal do mar e das lágrimas. Mais puras. Sobreviventes. Cientes de que a vida se constrói em cada margem. No parapeito da ponte. Rente ao silêncio e a todos os gestos.

Militante de incertezas vagueio entre mar e terra apurando o sentido no infinito - meu eterno ponto de fuga.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

De regresso



Imagem da net de António Inglês. Faial junto ao vulcão dos Capelinhos. Na impossibilidade de, por agora, trabalhar todas as fotos que tirei.


Apesar do nevoeiro denso que vejo para lá da janela sei-me, de novo, nesta terra. Ainda há o oceano, o mesmo, e a mesma espécie de "abafamento" menos densa e de características indefinidas. Apenas a paisagem é outra. Apenas aqui para dar nota da chegada enquanto tudo se arruma dentro de mim.

Trago largos espaços oceânicos e a paz da sua liberdade e extensão. Trago ainda os verdes preenchendo imaginários e os labirintos da vida. Trago a fundura de certos vales que, a pique, se afundam no mar. Trago a pedra, a lava, a sombra, o ocre e toda a paleta da saudade. Trago também os trilhos por onde passeei a sede das descobertas. Trago, em mim, as velhas ladainhas, os ritmos, as fantasias e a eterna sede de descoberta. Como diz a tshirt que me ofereceram e que tanto usei fui


nomade
globe trotter
et libre



e ainda acarinho todos os privilégios que isso me aporta como um galeão que ainda sulca as vertigens de todos mares perdidos.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009





quando te escuto
o mar é o som que amplio
quando te toco
cresço na areia salgando a espuma
quanto te sei
o infinito é consequência
quando te olho
a gaivota nidifica
quando te apartas
morre-me o silêncio.

HFM - Lisboa, 19 de Agosto de 2009



terça-feira, 18 de agosto de 2009

Sem título


Não te direi do mar a imensidão
na onda perseguirás o infinito.


HFM - Ericeira, 30 de Junho de 2009<(p>



sábado, 15 de agosto de 2009

Haikai


o verde e um ar parado
pia um pássaro
na manhã de sol

HFM - Lisboa, 13 de Agosto de 2009



quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Se a minha mão fosse uma gaivota


Se a minha mão fosse uma gaivota
percorreria do mar o caminho
encostava à rocha
seguindo o cantar do oceano
das ondas o bailado
e do nevoeiro a voz

se a minha mão fosse uma gaivota
enrolava-se no teu pranto.



HFM - Ericeira, 2 de Julho de 2009



segunda-feira, 10 de agosto de 2009





Quando o verde se atreve em perspectiva linear central e a sua frescura apascenta o meu corpo, distendo-me. E faço-o de tal maneira que a recordação liberta em mim, como num leque, os close-ups de uma tarde quente. Outra.

Era o mesmo jardim. Mais calor. Revi os bancos que se encostavam em ângulo recto e as tuas mãos salientando-se por sobre as calças. Hoje havia silêncio, não o ensaio que me ensurdecia. Bailavam os panos e a sua frescura. O CAM, à direita, era um convite tal a frescura do bambu. Sem ser em jeito de romaria também passei pela rua do restaurante barulhentamente ensurdecedor mas que os teus olhos apaziguavam.

Olhei a minhas mãos. Senti-as vazias e, então, voluntariamente deixei que tudo se esfumasse como o lado de sombra dos rostos nos retratos de Fantin Latour que acabara de visitar.

Lisboa, Gulbenkian, 9 de Agosto de 2009



sábado, 8 de agosto de 2009


Quando do silêncio não se escutam as horas
na bruma da tarde escaldante
surgirás


espuma de uma onda sem mar.

HFM - Lisboa, 26 de Junho de 2009



quarta-feira, 5 de agosto de 2009


Quando te ergueres do nada
respira fundo
pensa-te estátua

espera
e quando o sol
se esconder no mar
sorri

aliviada
poderás, então,
sentir-te pedra.

HFM - Ericeira, 30 de Junho de 2009



domingo, 2 de agosto de 2009

Sem título


Quebra-se na onda o mar
espuma branca de ti

cisterna que não se esgota.

HFM - Ericeira, 2 de Julho de 2009



quinta-feira, 30 de julho de 2009

vir à tona?



não é linha. não tem rosto. não se apresenta. apenas um feeling e os tambores a rufarem na cisterna onde me mergulharam. enredo-me nos limos. a viscosidade não me agrada. patinho no tempo e tenho saudades.


quarta-feira, 29 de julho de 2009

Anoitecidos

percorri o estreito caminho. entre pedra e mar. havia o azul. sem manchas. nem mágoas. por entre a bruma descortinei um pálido fio. desconcertante. era o vento nas sinfonias do luar. o som rasteiro dos bichos no canavial. e sob o infinito o doce traço de um sonho futuro. estigma onde pendurei todo o meu sentir.

domingo, 26 de julho de 2009

Sem título

quando assento na areia o passado
um voo rasante de gaivota
debica-me a infância.


HFM - Ericeira, 13 de Julho de 2009

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Do diário


apenas outro na sequência da vida. junto ao mar. olhando o cabo para lá da bruma e de uma chuva miudinha que me acolhe. mar – ponto de ligação – onde se estreitam os laços, onde se pescam as pontas, onde se sabe da eternidade, onde a dimensão nos afoga de promessas, onde colho, desvairada, a poeira dos dias que passam e a espuma branca do infinito. onde sei. onde sou. onde me solidifico. rocha por entre rochas. e, olhando o bocadinho onde me sei, vejo, difuso, o perfil de uma âncora – o teu rosto.

HFM - Ericeira, 22 de Julho de 2009


quarta-feira, 22 de julho de 2009

Num estúpido sábado de verão

Para ti


quando eu te disser que te quero
tu
já o saberás


quando a noite sorrir no aconchego
tu
olhar-me-ás de frente em surdina


quando o mar adensar a tempestade
tu
invadirás a nossa casa


quando o tempo nos enrugar a sede
tu
inventarás o improvável


amor, está sol
hoje não é sábado
vamos regar os jardins?


HFM - Ericeira, 18 de Julho de 2009

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Sem título

nos teus dedos a serenidade das horas
o fragor do mar e de todos os rios


contornos de infinito.



HFM - Lisboa, 25 de Junho de 2009

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Anoitecidos


Quando os lábios já não assobiam e no ar paira um silêncio mais parecido com o tédio a cabeça olha, sem ver, o óbvio da mancha azul estendida até uma hipotética linha a que chamam horizonte. Horizonte? Outra ficção que só tarde descobrimos ser apenas isso – ficção.

Na modorra da manhã já nem os gritos se soltam e até os coelhos desapareceram porque lhes destruíram as louras.

Destroem-se as louras. Destrói-se o horizonte e até o fio de prumo se entortou. E não foi a nortada. Tão pouco o vago sentido desta silly-season. Tão só o nada do azul/céu, do azul/mar entre o qual declino o verbo que não conjugo.

Histeria do ar parado. Eco dos dias longos e do ressoar dos passos no claustro de colunas cujo poço me devolvia a imagem que me habita.

Perdeu-se o assobio no labirinto do vento; de tão etéreo não o consigo encontrar.

Senta-se Ariadne, na areia, e espera.

Ericeira, 16 de Julho de 2009

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Na morte de Pina Bausch



jamais os corpos cantarão

na desconstrução da forma



os deuses roubaram a coreografia.


HFM - 1 de Julho de 2009


segunda-feira, 13 de julho de 2009

Anoitecidos


Na noite sem fim a cabeça. Desprovida. Vaga. Distante. Apenas um sopro lhe recolhe o ritmo. Frágil. Enquanto, lá fora, a cidade ferve na sua constante agonia.

HFM - Lisboa, 11 de Junho de 2009


quarta-feira, 8 de julho de 2009

Sem título

os dedos prendem as cerejas
como numa prece


inquieta-se a boca.

HFM - Lisboa, 24 de Junho de 2009




segunda-feira, 6 de julho de 2009

Anoitecidos



foto de hmf


Quando o luar ainda não é pleno há promessas que se agigantam nas noites junto ao mar. Um qualquer Adamastor que nos vem perturbar. O tanger da caravela sobre o mar. Um grito de terra à vista. E, finalmente, a promessa de que não era apenas sonho. Limalha dos dias em que o mar não é escapatória. Longo grito de distância desfeito nesse outro grito, o do gajeiro que ainda vê “areias de Portugal”!

sábado, 4 de julho de 2009

Olhou-a. Sorriu.



De repente viu-se numa noite para além da curva da estrada. Estremeceu. Era o mesmo lugar. Uma noite quente de Verão idêntica a essa outra que recordava. Ela tinha uma longa e larga trança preta que descia pelas costas. Era o mesmo mar.



Ouviu-se, então, murmurar:



- Como estás?



- Dentro do possível, bem. Tu pareces-me magnífico!



Sorriu.



- Para 91 anos, nada mau... e a gargalhada perdeu-se numa espécie de soluço.



HFM - Ericeira, 28 de Junho de 2009

quinta-feira, 2 de julho de 2009

há uma enorme saudade
no assobio do vento
entranhando-se no teu olhar

ribeiros de maresia
sem foz
nem arroios de luar.




HFM - Lisboa, 18 de Junho de 2009

terça-feira, 30 de junho de 2009

Da longa memória (para ti, mãe)


Na distância percorro o rio
na foz encontro a memória
e a incansável saudade da nascente.


HFM - Ericeira, 30 de Junho de 2009

domingo, 28 de junho de 2009


Na viagem do tempo encontrei resinas, folhas brancas, madeiras e uma ponte desconstruída no tempo. Seria coincidência? Ou tão só um acelerado sentimento conduzindo ao infinito? Memórias. E aquele momento em que o fogo em vez de destruir constrói.

Ericeira, 27 de Junho de 2009



sexta-feira, 26 de junho de 2009

Sem título


Quando do silêncio não se escutam as horas
na bruma da tarde escaldante
surgirás

espuma de uma onda sem mar.

HFM - Ericeira, 26 de Junho 2009



quarta-feira, 24 de junho de 2009

assombras-me

melodia de cello
pairando sobre a eternidade.


HFM - 22 de Junho 2009

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Olhando-te

pintura por entre pinturas
tu pairavas

ângulo a nomear.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Sem título

Quando o sol bate na relva
cansa-se o olhar
filtrando percursos.

HFM - Lx, Quinta das Conchas, 13.06.09

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Um ténue fio ligando resistências.
O olhar tecendo madrugadas.
As mãos soltando a claridade.
O horizonte - ponto de apoio.

A eternidade - linha de evasão.

HFM - Lisboa, 16 de Junho de 2009

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Quando o silêncio não se amedronta a noite cerra fileiras. Os faróis dos carros são puros pontos sem cadência e o nevoeiro não encobre a estrada. Desta nada te direi - são incertos os ouvintes e os caminheiros não buscam palavras.

Vai, na contra corrente dos passos, onde te levar o desejo. Como uma criança despe a farda da rotina, sem obrigações nem leis serve-te do asfalto. Na bússola do vento cava a guarida. Cobre-te com a geada.

E quando te disserem que chegaste, duvida. Para além do asfalto cresce ainda o mar.

HFM - 7 de Junho de 2009

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Citando # 200

A lei do silêncio é inútil. Quando algo nos persegue na nossa memória ou na nossa imaginação, as leis do silêncio são inúteis, é como fechar uma porta à chave numa casa em chamas na esperança de nos esquecermos que ela está a arder. Mas fugir do incêndio não o apaga. O silêncio em relação a uma coisa só lhe aumenta o tamanho. Cresce e apodrece em silêncio, torna-se maligno.



Tennessee Williams

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Sem título


Jardim das Oliveiras - Museu do Holocausto - Berlim



Passo a passo repasso a tua imagem
fuga por entre cadeias e distâncias
só o mar e a eterna luz do teu sorriso.


Berlim, Museu do Holocausto, 16 de Maio de 2009


segunda-feira, 8 de junho de 2009

Sem título


Fotografia tirada nos belos jardins dum dos palácios de Potsdam onde se realizou a conferência de Potsdam


as mãos refazendo a ternura
o olhar esculpindo o movimento
a boca carregando lembranças

memórias urdindo o sentimento.


Berlim, 17 de maio de 2009