sexta-feira, 30 de janeiro de 2009


estufas de Kew Gardens Londres - foto de hfm



Concentra-te, ó zombie,

foge atrás da fuga

acrescenta-lhe o vento

cerra as dúvidas

engole a raiva



quando o mar se cobrir de azul esverdeado

o solstício virá.



HFM - Lisboa, 29 de Janeiro de 2009

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009


Pedro Santana



Escrever. Escrever como se o mundo não existisse e o tempo fosse volátil. Escrever como se as palavras se libertassem num estuário onde se pudessem expandir. Sem bifurcações. Sem sentidos proibidos. Sem notas dissonantes. Numa harmonia que o próprio caos criaria.



Assim, apócrifas, as palavras seriam o verdadeiro contraponto do sentir.



terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Ne varietur

Do Alexandre a quem agradeço ter-me deixado colocar aqui esta preciosidade.




com calma, muita calma,
abro-te o meu corpo como se abrisse um livro

verifico, sem surpresas,
que não tenho indíce ou posfácio -
todo eu sou letras, frases, a caminho de ti.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Palavras



Em recados se tornaram as palavras. Na lucidez escorregadia das pedras. Pedaços dos dias. Sem sol nem lua. Suor escorrendo na tensão. Uma amálgama desorganizada de situações. Tédio ou afrontamento. Fios sem pontas que nenhuma ponte une.

Exangues e indiferentes seguem o seu caminho.


imagem tirada daqui www.amac-parole.com

sábado, 24 de janeiro de 2009




não há sombras que escondam
um sentimento assumido
nem velas que clareiem
as horas contidas num segundo

um dia perceberás porque não quero ter raiz.



HFM - Lisboa, 23 de Janeiro de 2009

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Citando # 197

Só as casas explicam que exista palavra como intimidade.

Ruy Belo

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Do diário



Nunca te repitas. O tempo não esquece as feridas nem a raíz. É sangue tangendo o cello na sombra da morte. Uma lucidez nos dedos da memória. Uma incerteza que o corpo sempre aguenta.

Por isso te digo, nunca te repitas. Na incerteza, enrosca as dúvidas nas palavras adiadas; um dia elas pedirão aos deuses a sabedoria.

Imagem de Kathryn Crocker

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Para Obama



O cromatismo da esperança no cinzento do mundo.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Do diário

Sôfrega avança a mancha cobrindo a visão. Bebedeira de luz, de cor, de força. Um relâmpago sem trovão, rasgando na ausência a viagem, como uma faca sem lâmina. Depurada corre a estrada perdida nos caminhos secundários e na insónia dos mapas. Fontes descendo as montanhas donde se soltam os ecos e as brumas. Uma hipérbole de cascatas reflectindo o som do canto gregoriano e a solidão dos claustros. Listas de cor girando num carrossel de luz.

- Desculpa, disseste que a vida estava sem graça, foi?


HFM - 17 de Janeiro de 2008



foto de Avela

sábado, 17 de janeiro de 2009

Hugo Pratt

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009


Chove na transparência dos vidros como uma mímica de sentimento. Gotas contando histórias. Memórias avivando-se no minúsculo tempo de cada gota. Sinfonias interrompidas e, contudo, tão audíveis. Uma catarse de cor no cinzento do dia!


quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Sem título


nem um som
só a fuga do ano
que se ausenta
cumprindo normas
como um relógio de rigor
na vivência dos dias

horas que falseiam
o espaço de tempo
que nunca recriamos.

HFM - 31 de Dezembro de 2008


segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Portugueses


Acabei de chegar há pouco de uma palestra de António Vitorino de Almeida sobre A música no sec.XX. Quem o apresentou indicou algumas das suas qualidades tendo terminado com a de ser português. Não sei se é uma qualidade mas perante aquela figura senti que precisamos de algumas referências que nos façam sentir orgulho do país em que nascemos.

Quando cheguei a casa estavam a dar na televisão que Cristiano Ronaldo tinha sido eleito o melhor jogador de 2008 - liguei as duas situações e achei que hoje, malgré tout, tinha sido um dia em que tinha tido orgulho de ter nascido neste país.




E já agora deixem-me que refira que o orgulho ainda foi maior por Cristiano Ronaldo ter sido formado nas escolas do meu club - o Sporting - na senda do que já acontecera com Luís Figo.

É assim mesmo, isto hoje vale tudo ;)

Com um obrigada


Os olhos de Vincente

Que não havia música nos teus olhos
só dois pontos verdes, azuis, roxos
debaixo da sombra das pálpebras

Era aí que guardavas as telas
que deslumbravas com o trigo
o negro dos corvos

É o que sabemos agora, face aos despojos
da tua vida

Não havia música nos teus olhos
só sombras nos lábios
Era aí que pintavas a cor da tua morte
Rústica sobre as searas.

poema da autoria de J.T.Parreira


sábado, 10 de janeiro de 2009

Do diário




Hoje de manhã as Conchas pareciam um conto feérico saído de qualquer ilustração inglesa. Os canais de água estagnados por uma camada de gelo. As ripas de madeira que os ladeiam estavam cobertas com um intermitente manto branco de cristais de gelo. A erva semeada de um branco queimado. O frio cortava a pele e a cabeça estalava. Só os passos cumpriam presságios e enquadravam-se na envolvência. Não havia lucubrações. Só o grito dos passos rangendo o gelo e silenciando o frio que sonhava com a casa.

Do alto, as árvores sorriam.


HFM - 9 de Janeiro de 2009

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O meu Papa (João XXIII) dizia:

desenvolvimento é o novo nome da paz

abafaram-no, esqueceram-no, calaram-no por entre os aveludados do Vaticano.

Era o meu Papa. Há muito que não reconheço os que se sentam na cadeira de S. Pedro. Grande parte do mundo também não. E do desenvolvimento não há traços. E da paz, nem o conceito.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Quando o impossível me torna feliz





para o Eduardo Graça


é sempre tarde quando tento
esgotaram-se as rotinas
e as pulsações
só na luz de Lisboa
há um mar a descobrir
aí, numa gargalhada de palhaço,
circunscreverei
a liberdade.

HFM - Lisboa, 4 de Janeiro de 2009


segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Anoitecidos





Na escuridão só a luz do silêncio e os gritos das pedras na seiva do rio confundindo-se com a chuva e com a cidade. Vibra o asfalto nas pulsações dos carros que descobrem a noite na trama do alheamento.

Um cão vadio esgravata o lixo como a garantir que tudo poderá ter limites – a noite, não.



HFM - Lisboa, 3 de Janeiro de 2009


sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Sem título




Quando o nada se atreve no vento
escorre a chuva das cisternas
eliminando o deserto

um som de ausências
atravessa impuro
o sangue das memórias.

Lisboa, 28 de Dezembro de 2008