domingo, 29 de agosto de 2010


Abadia normanda de Jumièges



Quem te disse que nas ruínas está a alma das coisas? Conheces a sabedoria?

Realmente é nelas que a aranha desenha as suas mais belas teias - rendas que o orvalho desponta.




HFM - Lisboa, 20 de Agosto de 2010

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Escritos






Um soluço e uma pena habitam a memória neste dia de sol que invade a cidade. Parece que a nostalgia veio para ficar. Como um pregão. Ou uma fuga. Nesse soluço que mais parece uma falha de respiração. A luz está agreste e talvez ela o tenha construído como uma muralha. Abstracta. Mas é lúcida a nostalgia. Em diálogo comigo onde estou longe de estar k.o. Vou-lhe dando pasto. Vou-lhe avivando a memória. Contudo, recolho em mim, as imagens onde não quero navegar. “Navegar é preciso”!; é sim, meu amigo, mas há momentos em que a inacção se deve sobrepor, de preferência uma inacção tipicamente britânica – uma perfeita idleness.

Fica, então, essa pena embrulhada no soluço e a respiração do náufrago que parou de navegar.

“Tanto mar”!. A ele voltarei quando, encrespada a costa, os seus verdes se reflectirem no azul e pacificarem o soluço; então, permitirei que o veleiro se faça ao mar numa arriscada manobra torneando o cabo de todos os murmúrios.



HFM - Lisboa, 25 de Agosto de 2010


terça-feira, 24 de agosto de 2010

Do diário





In silence - de Chiharu Shiota


O silêncio socorre-se dos labirintos por onde se esgueira. Aí reina. Aí domina. Aí se centra no interior e no fundo das sombras. Nele me sento. Rente, rente à borda da vida. Cantando para dentro as mágoas que o silêncio impede que se soltem. Como uma promessa adiada que nunca se cumprirá. Fogo que ninguém vê. Roturas que apenas pressinto. Sinónimos vagos de uma língua que desconheço. E a solidão.

Só o mar vigia e espera.


segunda-feira, 23 de agosto de 2010


Mão amiga fez-me chegar esta preciosidade que vi há muitos, muitos anos - digamos mesmo no século passado! Obrigada





sexta-feira, 20 de agosto de 2010


René Magritte


Retenho a respiração. Só o vento a invadir a garganta. O vento e o murmúrio. Um sopro. E de novo a respiração. Lembrando-me a condição humana. Tipo ferrete. Fecho os olhos. Respiro. Afinal sou humana. Mas cá dentro a insurreição começou. De olhos fechados. Respirando. Congrego os sentires e parto para algures, como numa ausência, como se a respiração fosse apenas essa palavra de culto na actual sociedade portuguesa - um fait divers.

HFM - Lisboa, 18 de Agosto de 2010

quarta-feira, 18 de agosto de 2010




uma árvore sobre o oceano. ilusão de óptica. de distância. um pequeníssimo ilhéu a que a árvore se ancorou. sem medo. silente. calma. entortando-se como se a sede a prolongasse. desafiadora como uma criança mimada. atenta que a onda, ao brincar, aleija.

como a árvore me quero plantada. em guarda. observando.

envolta no silêncio do tempo, do espaço, da água, dos deuses.






HFM - Lisboa, 16 de Agosto de 2010




segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Silly season

boa para descobrir a minha própria cidade.













Para mim uma exposição a não perder. Uma Graça Morais diferente das últimas exposições que dela vi. Muitos desenhos, muito pastel, muito carvão e sempre a sua sensibilidade dominante quer no traço quer na forma como vê e nos mostra a parte oculta das nossas gentes e a singeleza de uma folha de cerejeira ou de um ramo de oliveira.

No Palácio Anjos em Algés até meados de Setembro.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Da mudança


passada a tempestade
na ausência dos sorrisos
com a terra sem raízes
e secos os poços
toldaram-se-me os olhos

reconheci-me na imagem das árvores
mortas.

HFM - Lisboa, 13 de Agosto de 2010



quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Quando a claridade não alumia




Uma sentida homenagem aos nossos bombeiros.

terça-feira, 10 de agosto de 2010




No desconhecido que é um todo situa-se a imprevisibilidade. A charneira onde a criação é possível. Aleatória? Talvez. Mas sempre arrepiantemente envolvente. Só nela se pode trilhar o que ainda há a fazer. O pormenor. O cisco de madeira que pode preencher a falha. O direito à luta ou à indiferença perante este mundo formatado.

No desconhecido se encontra esse átimo que só alguns conseguem captar. E como, em tantas outras coisas, “less is more”.

Nesse pormenor invisível que, por momentos, atravessa o nosso campo ou a nossa visão, pode estar a alavanca que tudo propulsiona.

Atrevo-me. Não o procuro. Ele está aí – ao meu lado, dentro de mim, na palavra a pronunciar, no olhar que se cruza, na mão que se aperta.

Só em mim a possibilidade de com ele criar a utopia e a razão.

Despir o recheio. Apascentar a simplicidade. Avançar.

A única certeza é que não é na inacção nem na repetição que descobrirei a razão de ser.

A um passo segue-se outro passo – infantil?

Como eu gostaria de recuperar o olhar da criança.


HFM - Lisboa, 1 de Agosto de 2010



terça-feira, 3 de agosto de 2010

Escócia





Apanhado na net por um acaso e tendo sido um prazer rever esta bela região quase mágica aqui o deixo por uma semana enquanto vou ali e já volto.

domingo, 1 de agosto de 2010

Sem título


é ténue a força da vida
a sabedoria - nenhuma
não sabemos regar jardins.

HFM - Lisboa, 30 de Jullho 2010