domingo, 28 de fevereiro de 2010

Sem título


risca
arrisca
desentorpece o medo



só no salto justificarás a vida.




HFM - Lisboa, 19 de Fevereiro de 2010



quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Do diário




Berbere era o teu nome de vento e a simbologia do instante. A areia desenhava-te o corpo e esculpia-te o rosto no ocre estratificado das dunas. De ausências era o teu sorriso onde eu enquadrava a minha liberdade. Ritmos instáveis saboreando no ar a fragância do deserto e o silêncio envolvente dos nómadas que o atravessam.

Um dia voltarei e na miragem da tua mão estará sempre a certeza do inesquecível comprometimento.

HFM - Lisboa, 12 de Dezembro de 2010



terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Epitáfio



um dia ficarei eternamente
parada junto ao mar
no embalo da nortada
no ecoar das ondas


aí prolongarei a intocável liberdade.

HFM - Lisboa, 12 de Fevereiro de 2010

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Cenários




The Globe Theater - Shakespeare



Às vezes gosto de recriar cenários vivos – sento-me, por exemplo, num café e enceno um outro personagem que analisa as pessoas e os espaços de fora de mim e com uma argúcia que nada tem a ver comigo, ora com um estranho humor, ora numa rezingona sonolência. Outras vezes persigo uma pessoa, numa daquelas poucas ruas que teima em desacelerar a normal sucessão dos passos e tento imitá-la ora nos trejeitos ora no enredo de vida que lhe crio. Mas é o Metro que me fornece os meus melhores cenários – pessoas dormindo, pessoas comendo, pessoas falando sozinhas, pessoas interminavelmente ávidas dos seus telemóveis em frenéticas ligações mas, acima de tudo, as pessoas que fazem das carruagens do Metro a sua sala de estar privativa; nestes casos a imaginação pode ir dormir – o diálogo é contínuo, as deixas e os gestos que o adornam são de actores profissionais e o cenário é vivo e não precisa de qualquer retoque!

Por favor, podem levantar a cortina já se ouviram as pancadinhas de Molière!





HFM – Lisboa, 18 de Fevereiro de 2010


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Sem título




à dúvida sucede a dúvida
na progressão geométrica
da dispersão do tempo

em nós.

HFM - Lisboa, 17 de Fevereiro de 2010

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010


São reais as reentrâncias do medo
quando as velas esmorecem ao luar
e a distância prolonga a noite
e o susto dilata os enredos

São reais as reentrâncias do medo
quando o enfoque não cabe na perspectiva
e a alquimia não aceita segredos

São reais as reentrâncias do medo
quando as tangentes acompanham os degredos

Meu amor,

São reais as reentrâncias do medo.



HFM - Lisboa, 13 de Fevereiro de 2010


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Do diário




Quando a sombra percorrer o seu caminho deixará sempre vago o lugar do silêncio. Aí rasgarei a ponte entre a viagem e coisa alguma. Na rotação dos dias encontrarei a esfinge que já nada me perguntará. Ignorados os enigmas desgastam-se as perguntas. Leve, num ar rarefeito, procurarei a árvore e os vincos da sua história. Finalmente, nesse lugar, poderei desfiar o rol das minhas dúvidas nas tímidas horas de um crepúsculo.

HFM - Lisboa, 12 de Fevereiro de 2010



sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Do diário



Partir em direcção às estátuas que encimam as colunas. No alto da colina. Na linha do horizonte. Onde o silêncio se acoitar. Onde a luz fizer ferver a centelha do acaso. No silêncio petrificado onde os ecos são audíveis situarei a minha casa na sombra das estátuas, no prolongamento das colunas. Aí saberei reconhecer o fio que me liga à vida. Aí aprenderei que a realidade é o quotidiano do momento.

Um dia talvez possa sorrir às estátuas, agradecer-lhes a guarida e pedir-lhes apenas que mantenham intactos os ecos que se soltarem da pedra onde se esculpiram os capitéis que encimam as colunas. Destas só quero relembrar o momento branco em que fixei a que se adoçava à casa nessa rua sem história de uma das mais belas cidades europeias.



HFM - Lisboa, 10 de Fevereiro de 2010

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A minha geometria




De construção em construção
perspectivo o momento
nas linhas de fuga
do futuro onde assento o presente
alicerçado no passado

oblíquas que distorço em paralelas!

HFM - Lisboa, 3 de Fevº 2010



segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A muralha Fernandina


Com os Amigos dos Castelos fui ontem fazer parte do antigo percurso da Muralha Fernandina. O eng. Sousa Lobo foi o nosso cicerone e agarrou-nos com o seu entusiasmo e os seus conhecimentos sobre "esta cidade que eu amo".




A gravura de Giogius Braunio a partir da qual fizémos esta incursão pelos lugares onde passou a Muralha Fernandina e onde, de onde em onde, ainda se pode ter algum vislumbre da Muralha.

A verde a cerca que defendia a antiga Almedina e a vermelho o percurso da Muralha Fernandina.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010






nos corredores da cisterna escorria humidade e musgo tecendo fantasias nas colunas que sustentavam a sala abobadada. ali apenas o som dos passos e das vozes e a luz filtrada das lanternas. dois mundos opostos atraídos por um íman invísivel. silêncio/som. escuridão/luz. inóspito/acolhedor.



sinais contrários que o labirinto de túneis unia. como uma teia onde se encerravam lendas, sonhos, suspiros e todas as dicotomias.


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Centenário da República - 1910-2010




Mão amiga fez-me chegar a colecção de postais da Comemoração dos 100 anos da República Portuguesa. Deles destaco o que se encontra acima, nem podia ser de outra forma!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Sem título



sussurros desinquietavam a noite
e todos os limites do humano


cerrava-se a bruma no farol.



HFM - Lisboa, 31 de Janeiro de 2010