domingo, 12 de março de 2017
Um texto onde os "nims" não entram
Um texto onde os "nims" não entram.
A vida de todos nós é feita de altos e baixos, partidas e chegadas, encontros e desencontros. Felizmente tenho em mim um grande capital - sei da Amizade, do Companheirismo, do Amor e da Delicadeza. Acarinho-os com devoção.
Alguns vão-se no emaranhado da vida e das situações. Crises, assim lhes chamam, Talvez desinteresses, egoísmo, rotina ou ainda qualquer outra explicação que não consigo abarcar. Foram-se. Outras vezes, fui eu que fui. A vida... coitada, tem sempre as costas largas. Evitamos perceber que só nos mantemos à tona se investirmos, se nos disponibilizarmos, se "regarmos" o jardim dos sentimentos. A rotina, mata. O deixar correr, é morte súbita.
Há contudo alguns, esses "few" que comigo partilharam toda uma vida, outros que fui conhecendo, alguns raros, que tive o privilégio de me terem escolhido e de partilharem tudo o que, dentro deles, era muito grande, muito sólido, muito verdadeiro. Outros, os que realmente me faltam, são os que já partiram, geralmente muito cedo. Haverá um tempo para a partida?
Dos que ainda restam ou restarão sei que comigo vão partilhando o caminho qualquer que seja a estrada, o tempo, a fantasia... até que um dia eu seja memória.
HFM - Lisboa, 26 de Abril de 2016
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textos avulso
sábado, 5 de novembro de 2016
Sentaram-se no tempo os algoritmos; desconfiei. O sopro não vem do levante e a imaginação não encontra alicerces. São-me estranhas as sendas desgastadas e, na bússula, o norte esgueira-se para sul. Já não desfio o baralho, qualquer carta serve e talvez a pior me aponte a direcção do mar. Estarei, então, em casa e o sangue do capitão tornará a fazer vibrar o olhar da criança que fui e que se refugia em mim, como nessa história que, nas furnas, na Ericeira, aí com os meus sete anos, resolvi inventar. Daí até agora a vida salpicou-me de mistérios, quase oráculos e nunca lhes fechei a porta, mesmo quando sabia que a porta era fictícia. Aprendi com o erro mas, felizmente, contínuo a errar - sinal de que ainda não parei no aterro dos conformados.
HFM - 04. 11. 2016
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diurnos
quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
Boas Festas
A todos os amigos e a todos que aqui venham desejo Boas Festas.
Junto um texto de Miguel Torga escrito em S. Martinho de Anta a 24 de Dezembro de 1960 que, apesar de antigo, é ainda tão actual.
Natal. Já tudo dorme, e só eu, na casa, rumino ainda as rabanadas. Que significam elas afinal? O mundo estará realmente povoado neste momento por uma nova esperança? Não se ouviram passos auspiciosos ao dar da meia-noite, nem houve. com certeza, parto divino em nenhuma maternidade ou estábulo. Mas sabe-se que os grandes enviados chegam sem ruído, que o nascimento de que se trata é doutra natureza, que a luz esperada tem de acender-se dentro de nós. Por isso, quando digo mundo penso nos meus próprios limites, e neles procuro descortinar os sinais concretos da maravilhosa presença. Timidamente, aflora-me aos lábios uma palavra, que só de ser balbuciada aviva a chama da lareira. Amor - repito, alvoraçado. Mas não vou mais longe. Desalentadoramente, a boca, como um sino sem alma, deixa de vibrar. É que, por artes de não sei que espírito invisível e demoníaco, começa a desfolhar-se diante dos meus olhos um calendário de dois mil anos. E, nele, a palavra mágica, que impulsivamente me saiu da alma, escrita em vão duas mil vezes...
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natal
sábado, 21 de março de 2015
No dia da poesia
Há interregnos de pão e água
há solstícios de abundância
há solstícios de abundância
só o mar, incansável, continua a procurar a praia.
HFM - 21 de Março de 2015 - Dia da poesia.
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poemas HFM
domingo, 1 de março de 2015
Numa manhã acinzentada
Quando acordada divago
um coro harpeja no meu inconsciente
uma cantata incompreensível
onde flutua o sol
e o mar se alonga no infinito.
Carente, percorro sem sentido
os labirintos desmesurados
onde os atrevimentos são possíveis.
Doloroso é o regresso a mim
encarando a certeza das memórias
que o tempo e o cansaço foram destruindo.
Assim se tecem as catarses.
HFM - Lisboa, 28 de Fevº 2015
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poemas HFM
domingo, 9 de novembro de 2014
As lágrimas não têm regras, tanto são sorrisos de alma como amargas rugas que nela deixam os outros e a vida.
As lágrimas são um teclado desordenado e nunca afinado.
As lágrimas são intemporais.
As lágrimas reflectem o biorritmo de uma vida.
As lágrimas são o escadote por onde, desorganizadamente, aprendemos que há valores universais. Eu sei que os valores estão fora de moda mas não estão fora de mim.
As lágrimas são a enxuta simplicidade do sentimento.
Lisboa, 9 de Novº de 2014 - HFM
sábado, 5 de julho de 2014
quando as palavras decidem ter vida
só elas amornam a mão
numa tessitura de labirintos
e silêncios
as palavras criam-se nas letras
e eu tento agregá-las
como um pastor recolhendo o rebanho
mas elas teimam, saltam, dissolvem-se
na liberdade de uma caligrafia ausente...
claros rasgões de inocência
na penumbra dos dias de insanidade.
HFM - Ericeira, 4 de Julho de 2014
só elas amornam a mão
numa tessitura de labirintos
e silêncios
as palavras criam-se nas letras
e eu tento agregá-las
como um pastor recolhendo o rebanho
mas elas teimam, saltam, dissolvem-se
na liberdade de uma caligrafia ausente...
claros rasgões de inocência
na penumbra dos dias de insanidade.
HFM - Ericeira, 4 de Julho de 2014
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poemas HFM;
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
Um manto de silêncio
percorre o frio da manhã
ausentam-se as fragilidades.
percorre o frio da manhã
ausentam-se as fragilidades.
HFM - Lisboa, 2 de Fevereiro de 2014
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