
Era uma linha. Desnivelada. Percorrendo tramas. Incoerente. Vogando no espaço como um barco sem leme. Só os labirintos a podiam condicionar. Mas, porque eram labirintos, não se entendiam. E ela continuava. Expandia-se. Sem limites. Atípica. Entortando-se onde menos se esperava. Enfeitiçava-a os desnortes e a fuga. Ora lenta, ora numa corrida desenfreada. Neste desgoverno apenas um labirinto a percebeu. Lentamente, numa cadência sibilina, por entre as paredes que o rodeavam, assobiou uma melodia. Meia tresmalhada. Mas com ritmo. A linha estacou. O que seria aquilo? Inverteu o sentido. Rodopiou ao som da melodia. Bailou. Não sabia o que aquilo era mas encantava-a. No ar foi desenhando estranhos ângulos. Figuras desconhecidas. Uma amálgama de volumes e de traços. Entrecruzados. Direitos. Tortos. Assimétricos. Finos. Grossos. Entrecruzados. Tonta, parou. Abeirou-se da parede e, sem pensar, entrou por ela adentro.
Contam os velhos que nunca mais foi vista. Só do assobio, em surdina, a duas vozes, se continua a ouvir a melodia.
HFM - Lisboa, Maio 2011