Silêncio. O verdadeiro. Quando de dentro percorre a envolvência. Melancólica nostalgia onde somos sem ser num alheamento estático e, contudo, tão profundo.
Ausência de estruturas mentais. Apenas as colunas protegendo um céu com nuvens. Apenas as pinturas cercando de cor o que em nós há de melhor. Apenas o querer ser. Ainda a desmesurada ausência tão presente. O despojamento mesmo quando a riqueza estético-pictórica é demasiado premente.
E o eco das palavras por silabar é ainda e tão só a ressonância do vazio. E os passos precedem retrocessos no tempo. E as memórias deixam de ser um casulo para, despidas de qualquer fantasia, serem apenas o espelho onde nos confrontamos. O espelho gasto, um pouco partido, esfumado onde a vida se ausenta e se mostra.
No labirinto das memórias as ideias e os pensamentos desciam à cripta despojada que a Igreja tentou arrebicar mas não conseguiu. Aí, onde o silêncio era presença, a agnóstica sentiu-se bem - silêncio de paz interior - silêncio onde nos encontramos - silêncio onde não há fugas - silêncio que corta amarras e preconceitos - silêncio de vida - silêncio de confrontos onde nos assumimos - silêncio onde adivinhamos os nossos mortos - silêncio onde nos completamos.
Um dia onde vi sem ver. Onde os olhos foram a interioridade que desfocaram Giotto e Cimabue e deles ressaltaram, em ecumenismo, a paz e a beleza estética do sublime.
E, num gesto maternal, entreguei ao silêncio a pureza do que me invade e transcende - o infindável sentimento do amor.
Nesta noite de insónia, nesta cidade, outra que não a minha, faltam-me as palavras, mas ressurge, tudo dominando, a força dum silêncio que descobri.
Roma, 25 de Fevereiro de 2009 - depois de um dia descobrindo Assis



