Das luzes e da solidão, dizia o velho apontando para as iluminações e para as pessoas na rua.
Repetitivamente. Monocordicamente. Como um disco de vinil riscado. Com o som dos anos passando no vazio dos dentes. Depois ria. O riso dos ausentes, dos que se passaram para o outro lado. Para o deles. Um nicho que a cidade não aguenta. Por isso fecha os olhos. Por isso ensurdece os ouvidos. Por isso passa num passo apressado. Por isso tangencia paredes.
Das luzes e da solidão, das luzes e da solidão...
até que a voz tenha corda, até que a dor aguente, até que o frio não enregele, até que a noite se desfaça – Chiado abaixo, Chiado acima.
HFM - Faculdade de Belas Artes, 02.12.08
16 comentários:
A escrita esconde o que escreve
talvez por isso
o sonho
sempre é maior a solidão sob as luzes de dezembro.
um beijo do verão, amiga.
Belo texto! Um abraço
Mas só pode "ver" tudo isto quem esteja atento(a)...
Ainda bem que o consegues.
infelizmente, é tanto assim, Helena...
até que a noite se desfaça
e há noites que parecem eternas.
Beijos, Helena.
belíssimo.
Beijo,
mariah
Tempo de maior escuridão para os que vivem na margem das luzes.
Das luzes e da solidão... Falamos mais ou menos do mesmo. Estas luzes ressaltam a solidão. **
O velho era um poeta, ou então é-lo tu, que ouviste a pungente frase que ele apenas sentiu.
Tempos de náusea, de loucos e de indiferença.
das pa
lavras
coreo gr a
fadas-repetidos-
-passo s
~
A solidão daqueles para quem Dezembro é um lugar calado...
Belíssimo texto Helena.
Um beijo.
Helena, das palavras nas dobras da onda (acima e abaixo) à realidade de um velho "Chiado abaixo, Chiado acima".
Um abraço
a cidade não aguenta. a cidade não aguenta nunca.
até que tudo mude...
até que se faça luz no sitio certo!
Escrita só possível na empatia. Um obrigada grande!
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