sábado, 6 de dezembro de 2008


Das luzes e da solidão, dizia o velho apontando para as iluminações e para as pessoas na rua.

Repetitivamente. Monocordicamente. Como um disco de vinil riscado. Com o som dos anos passando no vazio dos dentes. Depois ria. O riso dos ausentes, dos que se passaram para o outro lado. Para o deles. Um nicho que a cidade não aguenta. Por isso fecha os olhos. Por isso ensurdece os ouvidos. Por isso passa num passo apressado. Por isso tangencia paredes.

Das luzes e da solidão, das luzes e da solidão...

até que a voz tenha corda, até que a dor aguente, até que o frio não enregele, até que a noite se desfaça – Chiado abaixo, Chiado acima.

HFM - Faculdade de Belas Artes, 02.12.08


16 comentários:

Mar Arável disse...

A escrita esconde o que escreve

talvez por isso

o sonho

Anónimo disse...

sempre é maior a solidão sob as luzes de dezembro.

um beijo do verão, amiga.

ma grande folle de soeur disse...

Belo texto! Um abraço

mfc disse...

Mas só pode "ver" tudo isto quem esteja atento(a)...
Ainda bem que o consegues.

Luis Eme disse...

infelizmente, é tanto assim, Helena...

Fred Matos disse...

até que a noite se desfaça

e há noites que parecem eternas.

Beijos, Helena.

Maria Azenha disse...

belíssimo.

Beijo,

mariah

Licínia Quitério disse...

Tempo de maior escuridão para os que vivem na margem das luzes.

vida de vidro disse...

Das luzes e da solidão... Falamos mais ou menos do mesmo. Estas luzes ressaltam a solidão. **

Justine disse...

O velho era um poeta, ou então é-lo tu, que ouviste a pungente frase que ele apenas sentiu.
Tempos de náusea, de loucos e de indiferença.

~pi disse...

das pa

lavras

coreo gr a

fadas-repetidos-

-passo s




~

Graça Pires disse...

A solidão daqueles para quem Dezembro é um lugar calado...
Belíssimo texto Helena.
Um beijo.

J.T.Parreira disse...

Helena, das palavras nas dobras da onda (acima e abaixo) à realidade de um velho "Chiado abaixo, Chiado acima".
Um abraço

Bandida disse...

a cidade não aguenta. a cidade não aguenta nunca.

Ad astra disse...

até que tudo mude...
até que se faça luz no sitio certo!

addiragram disse...

Escrita só possível na empatia. Um obrigada grande!