não é linha. não tem rosto. não se apresenta. apenas um feeling e os tambores a rufarem na cisterna onde me mergulharam. enredo-me nos limos. a viscosidade não me agrada. patinho no tempo e tenho saudades.
quinta-feira, 30 de julho de 2009
quarta-feira, 29 de julho de 2009
Anoitecidos
percorri o estreito caminho. entre pedra e mar. havia o azul. sem manchas. nem mágoas. por entre a bruma descortinei um pálido fio. desconcertante. era o vento nas sinfonias do luar. o som rasteiro dos bichos no canavial. e sob o infinito o doce traço de um sonho futuro. estigma onde pendurei todo o meu sentir.
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domingo, 26 de julho de 2009
Sem título
quando assento na areia o passado
um voo rasante de gaivota
debica-me a infância.
um voo rasante de gaivota
debica-me a infância.
HFM - Ericeira, 13 de Julho de 2009
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sexta-feira, 24 de julho de 2009
Do diário
apenas outro na sequência da vida. junto ao mar. olhando o cabo para lá da bruma e de uma chuva miudinha que me acolhe. mar – ponto de ligação – onde se estreitam os laços, onde se pescam as pontas, onde se sabe da eternidade, onde a dimensão nos afoga de promessas, onde colho, desvairada, a poeira dos dias que passam e a espuma branca do infinito. onde sei. onde sou. onde me solidifico. rocha por entre rochas. e, olhando o bocadinho onde me sei, vejo, difuso, o perfil de uma âncora – o teu rosto.
HFM - Ericeira, 22 de Julho de 2009
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do diário
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Num estúpido sábado de verão
Para ti
quando eu te disser que te quero
tu
já o saberás
quando a noite sorrir no aconchego
tu
olhar-me-ás de frente em surdina
quando o mar adensar a tempestade
tu
invadirás a nossa casa
quando o tempo nos enrugar a sede
tu
inventarás o improvável
amor, está sol
hoje não é sábado
vamos regar os jardins?
HFM - Ericeira, 18 de Julho de 2009
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segunda-feira, 20 de julho de 2009
Sem título
nos teus dedos a serenidade das horas
o fragor do mar e de todos os rios
contornos de infinito.
o fragor do mar e de todos os rios
contornos de infinito.
HFM - Lisboa, 25 de Junho de 2009
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sexta-feira, 17 de julho de 2009
Anoitecidos
Quando os lábios já não assobiam e no ar paira um silêncio mais parecido com o tédio a cabeça olha, sem ver, o óbvio da mancha azul estendida até uma hipotética linha a que chamam horizonte. Horizonte? Outra ficção que só tarde descobrimos ser apenas isso – ficção.
Na modorra da manhã já nem os gritos se soltam e até os coelhos desapareceram porque lhes destruíram as louras.
Destroem-se as louras. Destrói-se o horizonte e até o fio de prumo se entortou. E não foi a nortada. Tão pouco o vago sentido desta silly-season. Tão só o nada do azul/céu, do azul/mar entre o qual declino o verbo que não conjugo.
Histeria do ar parado. Eco dos dias longos e do ressoar dos passos no claustro de colunas cujo poço me devolvia a imagem que me habita.
Perdeu-se o assobio no labirinto do vento; de tão etéreo não o consigo encontrar.
Senta-se Ariadne, na areia, e espera.
Ericeira, 16 de Julho de 2009
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quarta-feira, 15 de julho de 2009
Na morte de Pina Bausch
jamais os corpos cantarão
na desconstrução da forma
os deuses roubaram a coreografia.
HFM - 1 de Julho de 2009
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segunda-feira, 13 de julho de 2009
Anoitecidos
Na noite sem fim a cabeça. Desprovida. Vaga. Distante. Apenas um sopro lhe recolhe o ritmo. Frágil. Enquanto, lá fora, a cidade ferve na sua constante agonia.
HFM - Lisboa, 11 de Junho de 2009
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Sem título
os dedos prendem as cerejas
como numa prece
inquieta-se a boca.
como numa prece
inquieta-se a boca.
HFM - Lisboa, 24 de Junho de 2009
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segunda-feira, 6 de julho de 2009
Anoitecidos
Quando o luar ainda não é pleno há promessas que se agigantam nas noites junto ao mar. Um qualquer Adamastor que nos vem perturbar. O tanger da caravela sobre o mar. Um grito de terra à vista. E, finalmente, a promessa de que não era apenas sonho. Limalha dos dias em que o mar não é escapatória. Longo grito de distância desfeito nesse outro grito, o do gajeiro que ainda vê “areias de Portugal”!
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anoitecidos
sábado, 4 de julho de 2009
Olhou-a. Sorriu.
De repente viu-se numa noite para além da curva da estrada. Estremeceu. Era o mesmo lugar. Uma noite quente de Verão idêntica a essa outra que recordava. Ela tinha uma longa e larga trança preta que descia pelas costas. Era o mesmo mar.
Ouviu-se, então, murmurar:
- Como estás?
- Dentro do possível, bem. Tu pareces-me magnífico!
Sorriu.
- Para 91 anos, nada mau... e a gargalhada perdeu-se numa espécie de soluço.
De repente viu-se numa noite para além da curva da estrada. Estremeceu. Era o mesmo lugar. Uma noite quente de Verão idêntica a essa outra que recordava. Ela tinha uma longa e larga trança preta que descia pelas costas. Era o mesmo mar.
Ouviu-se, então, murmurar:
- Como estás?
- Dentro do possível, bem. Tu pareces-me magnífico!
Sorriu.
- Para 91 anos, nada mau... e a gargalhada perdeu-se numa espécie de soluço.
HFM - Ericeira, 28 de Junho de 2009
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quinta-feira, 2 de julho de 2009
há uma enorme saudade
no assobio do vento
entranhando-se no teu olhar
ribeiros de maresia
sem foz
nem arroios de luar.
no assobio do vento
entranhando-se no teu olhar
ribeiros de maresia
sem foz
nem arroios de luar.
HFM - Lisboa, 18 de Junho de 2009
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