segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Rew


Quando de novo passares por aí
olha a casa, o alpendre
a sombra da mansarda
no branco da parede
e se ao longe ouvires
o mar
saberás que te falo desse tempo
das noites quentes
enluaradas
e dos morcegos saindo da madeira
de algumas traves
das tardes de leitura
e do cesto de verga
onde abundavam os pêros
bravo esmolfe
e assim saberás
que era Setembro
que éramos jovens
e que a praia tinha o sabor
a sal, a lapas, a percebes
aos dias sem horas
ao tempo sem pressas
às sombras que cada um
projectava no outro
como duas folhas de um livro
aberto numa aventura que não acaba.


Dos sinais da memória
ecoam as cantigas de roda
e o riscar das esferas dos patins
que se perderam.

Lisboa, 22 de Novembro de 2008


17 comentários:

Fred Matos disse...

Belíssimo.
Beijos

Ad astra disse...

Bendita inspiração ...

um beijo comovido

CNS disse...

A sinestesia da memória. Muito belo.

abraço

vida de vidro disse...

Um poema sublime. Dessa memória que em nós gira, gira... **

blue disse...

bendita, sim :)

Teresa Durães disse...

recordações nostágicas de tempos despreocupados

Justine disse...

Empolgante, o teu belíssimo poema. Um retrato melancólico de tanta coisa perdida - sabores, cheiros, sentimentos.
Repito: muito, muito belo!

Mar Arável disse...

É verdade

sem memória

não existem amanhãs

Ana disse...

Consegui ver o alpendre e ouvir o mar. Magia das palavras.
Um beijo, Helena.

Era uma vez um Girassol disse...

Já tinha saudades de te ler, Helena, mas o cansaço vence-me para andar na net e até usar o computador!!!! Imagine-se, eu que passei a vida agarrada a ele...
Preciso descansar a vista, coitada....
Bonito o teu novo espaço, belissimas as palavras!
O bom gosto, a sensibilidade, o saber, a experiência, a surpresa.
Escrever muito bem, desenhar também...
Ah...É a Linha de Cabotagem!!!!
Beijinho da flor

Anónimo disse...

E continua lá igualzinho aquele belíssimo alpendre. Neto de peixe sabe nadar!!!!!!!!!!!!
Bons tempos.
Melunça

J.T.Parreira disse...

Helena, que belíssimo regresso à juventude. Todo ele, o regresso/poema.
Abraço

Manuel Veiga disse...

perfume de Setembro. que perdura. no gosto das maçãs. e no livro aberto no regaço...

belíssimo.

beijo

jrd disse...

Magnifique!
"C'est en Septembre, que ma plage me reconnaît..."

© Maria Manuel disse...

belíssima evocação de um tempo passado, presentificado na beleza destes versos.

Eduardo Graça disse...

Carnudo e sumarento ..

Anónimo disse...

uma viagem que nos parece deja vu -as saudades que temos!
bj, Helena! cpfeio