Senta-te diante da folha de papel e escreve. Escrever o quê? Não perguntes. Os crentes têm as suas horas de orar, mesmo não estando inclinados para isso. Concentram-se, fazem um esforço de contensão beata e lá conseguem. Esperam a graça e às vezes ela vem. Escrever é orar sem um deus para a oração. Porque o poder da divindade não passa apenas pela crença e é aí apenas uma modalidade de a fazer existir. Ela existe para os que não crêem, como expressão do sagrado sem divindade que a preencha. Como é que outros escrevem em agnosticismo da sensibilidade? Decerto eles o fazem sendo crentes como os crentes pelo acto extremo de o manifestarem. Eles captarão assim o poder da transfiguração e do incognoscível na execução fria do acto em que isso deveria ser. Escreve e não perguntes. Escreve para te doeres disso, de não saberes. E já houve resposta bastante.
8 comentários:
Palavras de uma exatidão e sensibilidade absolutas. Imluminaram o meu domingo.
um beijo grande.
Se eu soubesse escrever, era capaz de me doer mais do que sei, do que do que não sei.
Abraço
Ótima citação. Sábias palavras.
Beijos
"Escrever é orar sem um deus para a oração.". Escrever é estar em estado de graça, como se uma absolvição nos atingisse... Vergílio Ferreira sabia disso...
Escrever com querer
pode não ser crer
porque nem todos são responsáveis
pela existência de deus
mas escrevem no relativo
apenas pelo prazer infinito
de tentar dar vida
a uma pedra
mesmo que seja
para nada
Extraordinárias palavras. Escrever como um acto quase místico. **
a minha eterna Paixão!!!!!!
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enorme!!!!!
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escrever é por vezes uma oração conseguidamas noutras não
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