domingo, 30 de novembro de 2008

Citando # 195 - Vergílio Ferreira


Senta-te diante da folha de papel e escreve. Escrever o quê? Não perguntes. Os crentes têm as suas horas de orar, mesmo não estando inclinados para isso. Concentram-se, fazem um esforço de contensão beata e lá conseguem. Esperam a graça e às vezes ela vem. Escrever é orar sem um deus para a oração. Porque o poder da divindade não passa apenas pela crença e é aí apenas uma modalidade de a fazer existir. Ela existe para os que não crêem, como expressão do sagrado sem divindade que a preencha. Como é que outros escrevem em agnosticismo da sensibilidade? Decerto eles o fazem sendo crentes como os crentes pelo acto extremo de o manifestarem. Eles captarão assim o poder da transfiguração e do incognoscível na execução fria do acto em que isso deveria ser. Escreve e não perguntes. Escreve para te doeres disso, de não saberes. E já houve resposta bastante.

8 comentários:

Márcia Maia disse...

Palavras de uma exatidão e sensibilidade absolutas. Imluminaram o meu domingo.

um beijo grande.

jrd disse...

Se eu soubesse escrever, era capaz de me doer mais do que sei, do que do que não sei.
Abraço

Fred Matos disse...

Ótima citação. Sábias palavras.
Beijos

Graça Pires disse...

"Escrever é orar sem um deus para a oração.". Escrever é estar em estado de graça, como se uma absolvição nos atingisse... Vergílio Ferreira sabia disso...

Mar Arável disse...

Escrever com querer

pode não ser crer

porque nem todos são responsáveis

pela existência de deus

mas escrevem no relativo

apenas pelo prazer infinito

de tentar dar vida

a uma pedra

mesmo que seja

para nada

vida de vidro disse...

Extraordinárias palavras. Escrever como um acto quase místico. **

isabel mendes ferreira disse...

a minha eterna Paixão!!!!!!


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enorme!!!!!

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_________________.

Teresa Durães disse...

escrever é por vezes uma oração conseguidamas noutras não